Constelação familiar ajuda a curar infertilidade?

Imagine que cada um de nós é um fio. Sozinhos, somos quase invisíveis, mas junto com os outros nos modificamos – para melhor e para pior. Assim é a vida: a cada experiência que vivemos, alteramos nossa percepção de mundo e, muitas vezes, repetimos um padrão familiar que nem percebemos que existe, mas pode nos fazer mal. É aí que entra a constelação familiar, uma espécie de terapia criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger ainda nos anos 70, mas que tem ganhado cada vez mais força no Brasil.

De tanto ouvir falar sobre o assunto, resolvi participar de uma seção de constelação familiar aqui em São Paulo – mas como ouvinte, e não como constelada. Ou seja, eu era uma participante da dinâmica e podia ser escolhida para viver um personagem caso a pessoa constelada me escolhesse, mas não era a minha história que seria vivenciada ali. Claro, fui escolhida para viver a mãe no caso em questão. Eu não posso dizer que a constelação familiar “curou” minha infertilidade, porque já contei minha história aqui, mas que essa terapia definitivamente me fez repensar algumas coisas, isso fez. Foi uma experiência muito positiva.

Já faz algum tempo que eu queria contar para vocês aqui mais detalhes sobre a constelação familiar e, então, fui atrás de uma especialista. Eu entrevistei a dra. Beatriz Guntzel, fonoaudióloga e terapeuta sistêmica e ela explicou de uma maneira bem bacana.

“Em primeiro lugar, o foco da constelação familiar é resolver conflitos. Para começar a compreender, vale saber quais são as três ordens de amor que regem os relacionamentos familiares:

  1. Pertencimento. Para sentir pertencimento, eu faço coisas iguais às pessoas do meu grupo. Imagine um menino que vem de uma família em que seus pais e tios vendem drogas, mas ele tem vontade de estudar. Acontece que, mesmo inconscientemente, seu amor ao seu clã familiar é maior que seu desejo de estudar. Resultado? Quando ele cresce comete os mesmos delitos para pertencer.
  2. Na hierarquia, manda quem é mais velho e tem mais experiência. Ou seja, nas famílias quem veio antes tem poder.
  3. Equilíbrio entre dar e receber. Quando eu dou algo, fico de consciência leve e quem recebe fica de consciência pesada, por isso precisa me retribuir. É aí que reside o equilíbrio”, explica a dra. Beatriz.

Mas os conflitos surgem quando alguma dessas ordens fica abalada. E é aí que a constelação familiar pode ajudar.

 

Como funciona a constelação familiar?

Imagine que você tem um conflito em uma das ordens acima para resolver. Você explica para o terapeuta (também chamado de facilitador) e ele vai passar instruções para os “personagens da sua vida”. Por exemplo: seu casamento está abalado porque você acha que dá mais do que recebe. Pois bem. Entre o grupo de participantes da terapia – de 8 a 10 pessoas que você nunca viu na vida – você seleciona alguém para “fazer o papel” do seu marido. Outra pessoa para vivenciar sua sogra e assim por diante. O terapeuta vai então usar sua técnica para conduzir essa vivência e você ali, sentada de plateia, vai assistir aos desdobramentos da sua história diante dos seus olhos. O terapeuta ainda vai orientar as pessoas a dizerem certas frases que são libertadoras e podem colocar um ponto final em muitos traumas e padrões familiares que não são mais bem-vindos na sua vida.

“A constelação resolve os desequilíbrios também nas três ordens: pertencimento, hierarquia e equilíbrio entre dar e receber. No primeiro caso, orientamos a pessoa para que se aproprie da sua vontade e se liberte dos padrões impostos. No segundo, mostramos que cada um na família tem seu papel e filhos não precisam assumir o lugar dos pais, por exemplo. E no terceiro, mostramos que a gente dá e precisa receber. Só ajudar os outros nos tira do nosso lugar. É preciso trabalhar a humildade e assumir que necessitamos da ajuda do outro”, conclui a dra. Beatriz.

É mais simples que parece e não tem efeito colateral. E mais: os adeptos da constelação familiar dizem que uma vez rompido o padrão, ele não se restaura mais, ou seja, você e as gerações que virão depois provavelmente não precisarão lidar novamente com o mesmo conflito. No meu caso, o maior aprendizado foi ver que a gente não precisa ser perfeita para ser mãe e que tudo bem errar – isso não significa falta de amor ou preparo. Profundo, né?

 

 

Serviço:

post 73 - constelação familiar - Dra Beatriz Guntzel 5

A dra. Beatriz Guntzel atende na Clínica Guntzel, que fica na Rua Santana 142, em São Roque (SP). A constelação na clínica dela custa R$200. Para mais informações, o telefone é (11) 4719-6601 e o e-mail, clinicaguntzel@gmail.com.

 

 

Foto: Flickr/ Marcello dell’Aquila


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