Hoje, a caminho de um exame de rotina, entro no táxi e a TV está ligada. Entre as notícias da chegada de Eike Batista ao Brasil, Fátima Bernardes começa o programa “Encontros” declarando: “hoje é o dia da saudade” e levando dois casais de pais que perderam seus filhos pequenos pra uma fatalidade.
Obviamente, não tem como comparar diferentes formas de luto, mas às vezes me pego pensando o quanto não engravidar é como viver um pequeno luto todos os meses – e um grande ao longo dos anos. E quando ela falava sobre o que já é ponto passivo entre psiquiatras e psicólogos, ou seja, as fases do luto, me identifiquei mais uma vez com esse processo.
Quem criou essa teoria foi um psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico chamado Edward John Mostyn Bowlby. Segundo ele, as fases do luto são: 1) o entorpecimento, 2) o anseio, 3) a desorganização e o desespero e 4) a reorganização.
Veja se você também se identifica com estas etapas ao longo do tempo em que tenta engravidar:
No primeiro ano, você ainda está lá esperançosa e se depara com 12 – nada menos que 12 – “negativos”, seja quando sua menstruação vem, seja quando faz algum exame que traz resultados negativos. É aí que começa o seu luto.
Primeiro, você começa a negar a realidade – “é normal” – e fica aflita.
Em um segundo momento, quer correr atrás do prejuízo: visita médicos, busca um diagnóstico, tenta descobrir quais são os primeiros sintomas de uma gestação para identificá-los no seu corpo, procura especialistas e tratamentos de fertilidade. A culpa e a ansiedade sufocam o coração. É como se surgisse uma saudade do que não vivemos.
É quando vem a terceira fase: você começa a perceber que nada está nas suas mãos e que por mais que se interesse, preocupe e faça de tudo para realizar seu sonho, isso não é garantia de que um dia você vá aparecer com aquele barrigão lindo. Então você se frustra, sente raiva, tristeza e até inveja (sim, somos humanas, desculpa) de quem engravida com a maior facilidade. Pode acontecer muita coisa boa na sua vida, mas você só consegue pensar no bebê que ainda não chegou. Você se apega a uma religião ou se revolta contra ela. Desculpa, de novo, mas é humano.
Por fim, você retoma as suas atividades, repensa muitas coisas na sua vida – seu casamento, seu emprego, seu futuro, talvez uma adoção? – e aceita a realidade.
Esse sentimento doído é muito mais comum que a gente imagina e é por isso que temos uma seção aqui no Cadê Meu Neném? que reúne depoimentos de quem passa ou passou por isso. Descobrir que não estamos sós ajuda a sobreviver a esta “saudade”. E muito. Já deu uma olhadinha lá?
*Foto: Flickr/Cathy Baird
3 thoughts on “30 de janeiro é o dia da saudade. E precisamos viver nossos lutos”