“Desde que descobri a infertilidade me tornei uma pessoa triste, sem vida e cheia de mágoas. Tento melhorar, mas algo me puxa pro mau humor”. Foi esse comentário encontrado em um grupo de FIV no Facebook* que motivou meu post de hoje. As respostas**?
“Também mudei meu humor nos últimos anos…. e não consigo melhorar. Pra falar a verdade, além do humor tenho tido crises de nervoso e irritação. Às vezes, depois do surto, vejo que foi por algo bobo… Tô vendo até que meu casamento mudou, minha vida profissional também, e a vida social: quase não tenho amigos”.
“Confesso que me sinto como você, bem desanimada, sem energia, cansada de tanta luta e dor”.
“Minha vida se resume a tudo que você citou. E ainda choro por qualquer coisa”.
É claro que há dias venho pensando em um texto bacana para essa semana. Como romântica incurável que sou, tendo a ver o lado bom dos acontecimentos e trazer energia positiva aqui no site. Mas hoje, não. Hoje, vou me permitir passar um recado diferente, porque nos 7 anos que passei tentando engravidar poucas pessoas me falaram isso e, muitas vezes, era tudo o que eu precisava ouvir. Senta que lá vem textão:
Pode chorar. Eu sei o que você está sentindo essa semana. É uma dor que parece uma pedra muito grande, dura, áspera e implacável. A cada nova campanha de dia das mães que a gente vê na TV, ouve no rádio, lê nas revistas e na web, ela destrói um pedaço do nosso coração. A cada nova amiga que contou estar grávida nos últimos meses, ela estraçalha uma parte da nossa felicidade. E assim, quando chega essa semana, seu coração está mais ou menos assim:
E você se sente sufocada. Não tem lágrima que dê conta de desafogar o peito. E olha que, quando não consegue engravidar, a gente descobre que “cabe” muita lágrima nos olhos. Por maior que seja o esforço para mantê-las guardadinhas, ao menor sinal de toque na ferida elas explodem. E é sobre isso que eu quero falar hoje: pode chorar.
A gente vive uma pressão imensa para estar sempre feliz. “Não perca as esperanças”, “não desista” e uma variedade de frases que quase te culpam por não acreditar, ao menos naquele dia de emoções nubladas, que “Deus sabe a hora das coisas” e frases semelhantes.
Eu estou aqui para te dizer: pode chorar. Pode socar o travesseiro. Pode gritar no carro. Pode comer um pote de sorvete, um balde de brigadeiro, um pacote de batata frita. Pode nadar e correr até o corpo ficar esgotado. Pode se acabar na balada. Pode dormir 14 horas seguidas. Pode querer passar o dia de pijama na cama. Pode não ir na festinha de 1 ano da filha da vizinha. Pode pular o almoço de família onde tudo o que você ouve é um monte de cobranças.
Porque você pode tudo. Não quer dizer que tudo acontece como e quando a gente deseja. Algumas coisas demoram muito mais do que gostaríamos. Outras simplesmente não acontecem. E tudo bem se desesperar. Tudo bem chorar na frente do espelho e viver seu luto. Tudo bem ficar mau humorada, irritada, explodir de vez em quando. Tudo bem recusar um programa com a amiga porque naquele dia você não está legal. Tudo bem não querer namorar porque você se sente incompleta. Está tudo bem. Mesmo.
Desconfie de quem está sempre feliz, de quem tem uma “vida de Instagram”. Dificilmente esta é a vida real. Isso vindo de uma otimista-alto-astral-incurável como eu. Por mais gratidão que você sinta, nessa trajetória contra a infertilidade há dias em que você vai desabar. E, de novo, pode chorar.
E mais: pode desistir. Nunca falei para uma leitora “não desista” porque acho esse o conselho mais vazio que existe. De onde veio esse mito de que não podemos desistir? Tudo bem desistir porque cada uma conhece seu limite. Eu até já escrevi sobre isso aqui.
Tentar engravidar é entender que temos altos e baixos, a esperança vai e vem, a culpa vai e vem, a tristeza ressurge quando menos esperamos – e nos dias óbvios, como o dia das mães. É também entender que tudo na vida é transitório, então é importante viver as tristezas, mas tendo em mente que não há nada como um dia depois do outro. E depois de enfiar o pé na jaca das lágrimas, é preciso sacudir a poeira porque a batalha ainda não terminou. E porque sempre temos, sim, motivos para agradecer.
Depois de sete anos, descobri algumas maneiras de trazer leveza para a minha luta contra a infertilidade. Aceitar que a vida é cíclica foi o primeiro passo. Fazer tudo o que estava ao meu alcance (me cuidando, procurando bons médicos, buscando manter a energia lá em cima a maior parte do tempo) e ao mesmo tempo confiar foi o segundo. Aliás, a frase que fica na minha geladeira, para eu olhar todos os dias, diz “a fé não significa ser passivo, mas agir e pensar sobre algo e, em seguida, ter paciência e confiar que o drama da vida também está cuidando disso”. Porque um dia, acredite se puder, a dor acaba. De uma forma ou de outra. E acreditar nisso faz a gente levantar da cama todos os dias.
Por fim, o que funcionou MUITO para mim foi ter meia dúzia de pessoas de confiança com quem desabafar. Não me imagino passando por tudo isso na solidão completa. Para mim, não daria certo. Eu entendo quem fala que não quer mais conversar com o marido sobre o assunto. Juro que entendo. Mas é preciso por para fora. O silêncio distancia e isso é tudo o que vocês não precisam no momento. Também entendo quem não quer levar expectativas para a família falando sobre as tentativas frustradas de engravidar. Mas às vezes nada como um colo de mãe e pai para curar as feridas. Por fim, uma amiga, ao menos uma, para poder te falar “que merda que você está passando por isso”, tem um papel importante demais. Não menospreze o poder da sororidade. Quero aproveitar para te dizer que eu posso ser essa amiga se em seu círculo estiver faltando empatia e compreensão. Pode desabafar, estou aqui.
E, sim, ao menos por hoje, pode parar de fingir que está tudo bem. Pode chorar. Porque amanhã será um novo dia.
*Se quiserem participar do grupo para trocar experiências, cliquem aqui, meninas.
** Não vou mencionar as autoras desses comentários, pois não pedi autorização a elas e usei esse conteúdo como exemplo de tudo o que tenho lido nos últimos tempos.
Fotos: Flickr/ Sarah W. e Dimitri Wittmann por Pixabay
Joyce 7 de maio de 2019
que texto!
Só verdades.
Pri Portugal 11 de maio de 2019
Fico contente ❤️
Tais 8 de maio de 2019
Vc exemplificou o que todas nós passamos.
Cheguei a fugir, dar desculpas, para não ir em encontros familiares por conta da nossa infertilidade.
O pior para mim era ouvir duas frases:
Tudo no tempo certo, Deus sabe o q faz.
É só voce tirar da cabeça que vai conseguir.
Nossa isso me irrita até hj.
Mais vale um (como vc citou acima): Que saco, q injusto vcs passarem por isso.
Do que essas frases idiotas consoladoras que só piora nossa dor.
Hoje estou bem, para isso fiz terapia, pensei em suicídio. Mas encontrei ajuda e me recuperei.
Conseguimos engravidar com quase 2 anos de tentativas. Milhões de exames e nada que apontasse nossa infertilidade.
Sou gestante de 17 semanas, quase metade ja foi uhuu.
No início era uma misto de felicidade e temor, que algo pudesse não sair bem. Até por conta de eu já estar com 39 anos. Mas o universo conspirou a nosso favor. Depois de tanta luta, conseguimos, minha gestação é saudável e a nossa filha está se desenvolvendo bem.
Meninas não desistam, não se contentem com um ou dois diagnósticos, não se calem, se incomodar, responda !
Desejo boa sorte e boas energias para vcs continuarem a caminhada.
Bju grande
Pri Portugal 11 de maio de 2019
Linda notícia ❤️
Maira 10 de junho de 2019
Estou na minha primeira FIV , tivemos 2 chances de sermos pais porém ontem recebi o resultado do beta negativo, milhares de pensamentos passam na nossa mente “ porque só eu não posso ser mãe, fizemos tudo certinho” pois é como as pessoas falam temos que esperar a hora certa que não nos compete determinar, estou muito triste sem nem saber como tentarei novamente ainda estou pagando parte do tratamento que foi caríssimo, pois na cidade onde moro não tem disponível, a certeza que tenho que não vou desistir no auge dos meus 40 anos ainda dá tempo ????.
Daniela 9 de maio de 2019
Obrigada por este texto…
Pri Portugal 11 de maio de 2019
❤️❤️❤️
Pri Portugal 17 de maio de 2019
<3
Priscila Veloso 10 de maio de 2019
Eu apenas chorei ao ler e me senti um pouco mais leve. Obrigada!
Pri Portugal 11 de maio de 2019
❤️❤️❤️
Moniche Souza 19 de maio de 2019
Também gostaria de agradecer! No meu caso meu marido sempre diz que todo mundo tem suas lutas e que tem gente morrendo de câncer… ele não compreende a minha doe! É olha que só não engravidei pq o problema vem dele… eta bem difícil pra mim! Sinto que meu casamento está com o prazo vencido.
Pri Portugal 22 de maio de 2019
oi, Moniche, eu sinto muito pela sua dor. Olha, sempre que alguém vem falar “é, mas tem gente morrendo, tem gente que não tem família, tem gente que não tem amor etc etc” eu brinco: “ué? Não sabia que estava em uma Olimpíada de dor para ver quem sente mais…” é irônico, mas real. Cada um com seu sofrimento e todos nós lutando para sermos felizes, né? Dá uma busca aqui no site por “azoospermia”, talvez seja uma luz de tratamento para o seu marido. Bjinho
Márcia Fernandes 13 de maio de 2019
Vc sempre nos confortando com suas palavras. Obrigada por esse espaço sempre aberto a acolher nossas dores. Essa semana não deu pra segurar e pena que me enquadro em tudo q vc falou. Não consigo me abrir com ninguém e o choro escondido acaba me sufocando. Estou cada vez mais me afastando da vida comum. Meu mundo tá preto e branco. Sou mãe de 4 anjos antes das 10semanas de gestação..
Sonho com meu bebê arco íris. Mas o luto permanece ! Compartilho aqui minha solidariedade a todas as mulheres tentantes e mães de anjo. Um abraço apertado em cada coração triste
Pri Portugal 17 de maio de 2019
Sinta-se abraçada, querida Márcia <3.
Marcia 22 de maio de 2019
Hoje, 22/05/19, meu 3° beta negativo… descobri seu blog. Fiquei grata por descobrir aqui um local de apoio. Eatiu lendo tudo…chorando muito. Q.dor! Obrigada pelo blog e pela ajuda.
Pri Portugal 23 de maio de 2019
Sinto muito pelo seu negativo, Marcia. Vc não está só, seja muito bem-vinda aqui ao Cadê. Desejo que se sinta acolhida. Bjinho
Marcia 23 de maio de 2019
Obrigada!
Karla 28 de maio de 2019
Esse texto é um abraço apertado que precisamos receber nos momentos mais desafiadores na luta contra a infertilidade. Com certeza aprendi muito e aprendo a cada dia com as dificuldades e algumas vezes penso em desistir, fico triste e desconsolada, mas algo não me deixa. Após longos anos, exames e tratamentos, penso cada vez mais que temos a obrigação de fazer tudo pelos nossos sonhos, mas chega num ponto que entendemos que o controle não está nas nossas mãos. Acho que este é o ensinamento mais difícil, pois requer a resiliência, algo difícil de alcançar. Tenho verdadeira admiração por todas as mulheres que enfrentam estas batalhas que assim como eu, muitas vezes desamparadas pela família e amigos, persistem na busca dos seus objetivos.
Pri Portugal 28 de maio de 2019
Fico contente que tenha se sentido acolhida, Karla. E volte sempre. Bjinho
VIVIANE CUNHA DOS SANTOS 9 de junho de 2019
Eu ando na maior depressão.
E isso acabou com meu namorro.
Estou agora sozinha na luta de um dia ser mãe.
Chorar todos os dias eu choro.
Mais chega sábado e domingo aff. Aonde academia está fechada e nao vou para o trabalho fico apenas com as minha lágrimas.. sábado e domingo são sofrimento para mim.
Em busca de ter um filho um dia aonde posso me Alegre com a bagunça e com os passeios no parque.
Desculpa as palavras.
Pri Portugal 10 de junho de 2019
Querida Viviane, seja bem-vinda ao Cadê Meu Neném?. Entendo sua tristeza: é muito frustrante não conseguir engravidar! Mas o que te sugiro de coração é que busque momentos de escape, formas de repor suas energias tão liberadas no processo de luta contra a infertilidade. Vou te falar o que funcionava para mim e espero que te ajude: fazer uma aula de dança – ou pilates ou yoga ou muay thai ou crossfit etc etc, aprender algum idioma e concentrar as energias e o tempo livre nisso, escutar todos os dias (como tarefa de casa!) suas músicas preferidas ou a lista do Cadê Meu Neném? no Spotify (tem várias músicas para levantar o astral por lá), fazer um brigadeiro e comer quentinho reassistindo ao seu filme preferido, adotar um cachorrinho, chamar as amigas para conhecer um novo restaurante/café/bar… e se jogar no trabalho. Além disso, uma terapia pode ser uma boa se vc sente que realmente é depressão o que te faz sofrer. Eu fiz uma terapia de florais (e faço até hoje!) por anos e tenho certeza que me ajudou a segurar a barra! Sinta-se abraçada e não espere um motivo para ser feliz. Vc pode ser feliz hoje, mesmo enquanto seu sonho ainda não se realizou. Vai por mim 😉
Viviane 11 de junho de 2019
Obrigada pela palavras.
Mais acabou o sonho.. terminei o meu relacionamento pois sou incapaz de gerar.
De realizar o sonho da minha vida e do meu amor.
Eu consigo destruir tudo que faz faz bem.
Por isso não posso ter filho.
Pri Portugal 23 de agosto de 2019
Oi, Viviane, seja bem-vinda ao Cadê. Desejo que se sinta acolhida aqui. Eu sinceramente não consigo acreditar que vc destrói tudo o que faz bem e também não acredito que seu relacionamento tenha acabado porque você não consegue gerar, me desculpe o excesso de sinceridade e de intimidade. Às vezes uma situação limite como a infertilidade faz aflorarem sentimentos que ficavam escondidos em um casamento e a causa real para o fim para ser essa, mas pode ser um conjunto de muitas outras. Sinta-se abraçada. Aliás, qual seu diagnóstico? Bjinho, Pri
Claudimere 23 de agosto de 2019
Tenho 39. O meu marido jura que vou engravidar, mas a cada mesnruação que desce vejo ele aflito. Não tenho causa aparente. Só idade demais mesmo. Na boa, só sei chorar escondido, porque ninguem entende meu sofrimento. Tenho fé em Deus, mas ando tão desanimada… obrigado por esse texto pois tô mal mesmo e hoje quero chorar e chorar sem ninguem ficar dizendo clichês.
Pri Portugal 30 de agosto de 2019
Eu sinto muito pela tua dor, Claudimere. Chorar faz bem, sim, mas tente cuidar do seu coração também, fazendo pequenas coisas que te tragam alegria e prazer, como assistir a um bom filme, preparar um cafezinho gostoso só para você, programar uma pequena viagem com seu marido… seja sua melhor amiga nesse momento solitário. Sinta-se abraçada. Bjinho
Claudimere 23 de agosto de 2019
Li o seu relato da sua não gravidez. Chorei tanto por você, pois sete nos é um vida! estou tentando a um ano e dois meses e me sinto tão incapaz! tenho 39 anos e quando fizer quarenta em maio se não engravidar, tenho medo de ficar deprimida de vez. Só tenho hoje vontade de chorar e de te abraçar, pois sua história é linda demais. Demorei anos pra conseguir realizar o sonho do matrimônio, coisa simples para a maioria das mulheres, mas eu penei pra achar alguem que quisesse ter família. E agora, a dificuldade pra ter filho. Obrigado por nos dar a chance de chorar aqui, pois só posso fazer aqui e ser compreendida.
Li 30 de agosto de 2019
Eu agradeço tanto por você ter escrito esse texto, principalmente por essa parte: “E mais: pode desistir. Nunca falei para uma leitora “não desista” porque acho esse o conselho mais vazio que existe. De onde veio esse mito de que não podemos desistir? Tudo bem desistir porque cada uma conhece seu limite.”
Estou num luto terrível após o segundo aborto. Tive doença trofoblástica e já tive que fazer 3 curetagens (decorrente do mesmo abroto), sendo que na última houve uma complicação séria (hemorragia). Ainda não estou 100%. E tento tanto medo de passar por tudo de novo que já decidi que irei desistir.
Mas agradeço as palavras, nunca vejo alguém incentivar a desistência, mas isso faz parte.
Um dia, irei adotar, vou focar as minhas energias para me acostumar com essa ideia e fazer com que dê certo.
Pri Portugal 30 de agosto de 2019
Querida, sinta-se abraçada. Já escrevi sobre isso aqui: http://www.cademeunenem.com.br/parar-de-tentar-engravidar/
E tb temos vários depoimentos lindos de adoção aqui no site. <3
Luciana Rodrigues 16 de setembro de 2019
Que maravilhoso ler todas vocês. Quando li o diário da minha não gravides só chorava.. me sinto sozinha nessa jornada. Tô magoada, não sei exatamente com quem,, com a vida, com o universo, com Deus, comigo, sei lá.. nunca imaginei que fosse viver isso, está sendo muito difícil.. e por hora desisti…
Pri Portugal 25 de setembro de 2019
Eu entendo perfeitamente, Luciana. Fico contente que tenha se sentido acolhida no site, pois a luta solitária é muito mais sofrida. Receba minhas energias positivas para se reerguer e tomar sua decisão em relação a continuar ou não. Sinta-se abraçada. Beijinho, Pri