Eu estou preocupada com a nossa autoestima. Sim, a nossa. A minha, a tua. Não importa quantas mulheres estejam tentando desconstruir um padrão inatingível, propagado há tantos anos pelas revistas e pelo cinema, ainda sofremos uma pressão interna para ser quem não somos.
Não me leve a mal: eu acho mais do que válida a iniciativa que parte de diferentes esferas feministas de mostrar que não temos todas o mesmo corpo, que podemos usar maiô/biquíni quando e onde quisermos, sim, que podemos deixar os cabelos brancos e que podemos, até, não nos depilar.
Sou imensamente grata a quem levanta essas bandeiras, a quem está aprendendo se amar como é, a quem está fazendo as pazes com o espelho. Acontece que, pelo que vejo no dia a dia, essas deusas poderosas são minoria. A gente – reles mortais – tem uma dificuldade tremenda de se desvencilhar do padrão Gisele Bundchen. Aliás, ela mesma, vejam vocês, já sofreu por seu nariz não se encaixar no padrão da época em que começou a modelar.
E por que eu tenho essa percepção? A começar pelas manhãs, quando me olho no espelho e enxergo imediatamente uma barriguinha que insiste em não ir embora desde a gestação (que já acabou há mais de um ano, vale lembrar). Abro meus e-mails, uma leitora diz: “meu marido deve estar de saco cheio de me ver chorar” (ah, a bendita pressão pela felicidade a qualquer custo). Converso com uma conhecida que está desistindo do tratamento para engravidar porque não aguenta o que os corticoides receitados pelo médico estão fazendo com o corpo dela.
Saio para almoçar com minhas amigas e uma diz que não lembra da última vez que ficou feliz quando se viu no espelho, a outra se incomoda com o pé inchado da gestação. Eu como um pastel de queijo com um copo de chopp (afinal, vocês têm ideia de como é difícil um horário na agenda de todas nós juntas?), mas me arrependo na sequência. “Tá vendo, Priscilla? Por isso que essa barriga não vai embora…”, diz minha mente com uma chibata na mão.
De tarde, entro no grupo de maternidade e sexualidade de que participo no Facebook. Ele é incrível, cheio de humor, brincadeiras, leveza… mas mesmo assim, todos os dias (e não é exagero!) alguém acha que o casamento vai acabar porque desde que o bebê nasceu, a libido está fraca, a autoestima está baixa porque ela não se reconhece mais naquele corpo com seios vazando e barriga proeminente (ufa, não sou a única!). Detalhe: muitos casamentos realmente acabam porque o sexo perdeu importância no momento em que a gente está dedicada APENAS a fazer um ser – frágil, indefeso, que não sabe se alimentar, andar e falar – SOBREVIVER. Detalhe 2: muitas dessas mulheres ganharam bebê há menos de UM ANO.
É, migas, não tá fácil. Precisamos dar um jeito de alimentar essa autoestima. De entender que nem a Julia Roberts acorda daquele jeito. Que beleza não é garantia de fidelidade – afinal, quantas divas a gente ouve falar que foram traídas (inclusive publicamente) pelos maridos? De perceber que ninguém tem obrigação de ser feliz o tempo todo. Bonita o dia todo. Jovem a vida toda.
E eu, que completo 40 este ano já começo a antever que, junto com a barriga que tanto me incomoda, as rugas ao redor dos olhos e os vincos ao redor dos lábios que começo a notar nas fotografias vão ser outra fonte de martírio muito em breve – afinal, quem ousa envelhecer na sociedade instagramável em que vivemos?
Lembro que minha mãe, minha avó, minhas tias e minha sogra dificilmente se gostam em fotografias – chegam a evitar se for em um ângulo x ou com a luz y, mesmo que a cena seja das mais lindas que se pode viver em família. Logo penso: é tanta mulher maravilhosa, com tantas qualidades, tanto poder, tanta sabedoria… por que mesmo é que perdemos o sono por conta de rugas, inchaço, tristezas que fazem parte da vida, cabelos brancos (eu mesma bato cartão no salão a cada 20 dias), barriguinha saliente?
Confesso que ainda não tenho a resposta, mas imagino que uma solução para melhorar essa autoestima é a gente desabafar com as amigas e ouvir em troca: “você é muito MARAVILHOSA, para com isso”. “Você está LINDA, as pessoas não precisam ser todas iguais”. “Esse inchaço é porque você está buscando seu SONHO”. “Se seu marido não aguenta mais te ver chorar é porque ele NÃO TE MERECE”.
Eu realmente acredito que a sororidade é a solução para nossa autoestima baixa. Isso e boas doses de realidade, de uma vida que não se baseia em cinema, revistas, Instagram e Pinterest. Olhe para a pessoa ao seu lado na praia. Ela não parece saída de uma passarela, aposto. Ah, sim, também são importantes marid@s/namorad@s que entendam que nosso verdadeiro valor vai além de um rostinho bonito – e jovem.
Só que ainda tem o espelho e o nosso olhar, crítico por natureza, pronto para nos punir ao primeiro pastel de queijo… essa voz, minha gente, é bem mais difícil de calar. Mas me comprometo aqui a tentar. E a olhar para meus defeitos sem uma lente de aumento. Vou guardar ela para as minhas qualidades. E vocês? Vamos fazer esse pacto?