Quando é que a gente fica pronta?

Hoje me peguei pensando no desmame do Raul, que faz 1 ano e 3 meses no próximo dia 22. Eu penso que o Raul é uma criança independente, ama comer e quase não procura mais o peito, pois temos momentos deliciosos juntos que vão muito além da amamentação (eu tenho o enorme privilégio de fazer home office), por isso imagino que a hora esteja chegando. Porque será bom para ele.

A questão é que estamos bem assim, eu amo esse nosso momento de intimidade – ele faz carinho no meu cabelo, vocês acreditam? – e foi muito difícil chegar até aqui. No começo sangrei, senti muita dor, precisei apelar para bico de silicone – e depois me adaptar sem ele. Lembro também de quando sonhava com isso e já tinha lido bastante sobre relactação (como contei aqui) caso não conseguíssemos gerar um filho biológico e fôssemos adotar porque a amamentação sempre foi um sonho pra mim.

Tá, mas o que isso tem a ver com você, que está tentando engravidar e já está ficando chateada com esse papo de amamentação? É que fiquei pensando com meus botões: quando é que a gente está pronta? Quando eu estarei pronta para o desmame? É uma resposta difícil porque mesmo experiências que já vivi não deixam isso tão claro na minha memória. Quando foi que fiquei pronta para namorar, casar, ter filhos? Não digo fisicamente. Essa é a parte mais fácil. Digo emocionalmente. Sim, porque não há manual. Cada um tem seu ritmo, seu tempo, sua forma de viver.

Ficar pronta para trabalhar, por exemplo. Significa ter habilidades físicas (andar e equilibrar pratos no caso de um garçom, dirigir no caso de um motorista, falar outro idioma no caso de uma professora, escrever no caso de uma escritora…) ou precisar muito do dinheiro? Ou ter tempo livre? Ou decidir viver em outro país e virar “gente grande”? Ou ainda ter PhD em faculdade gringa para se sentir expert no assunto?

E ficar pronta para ter filhos, então? Fisicamente, basta menstruar (ou não). Financeiramente, é preciso se formar, ter carro e casa própria (será?) Emocionalmente, a gente acha que só dá certo se estiver casada, com um bom plano de saúde e carreira estabilizada com ótimo salário. Tudo isso antes dos 35, claro, quando os óvulos ainda têm excelente qualidade (ou não). Será que estar pronta é ser uma mestra zen budista com um estoque infinito de paciência e ausência total de sono (juro que eu pensava que não engravidava por não preencher esses requisitos)?

Aí é que tá. Às vezes a gravidez acontece quando a gente perde o emprego, resolve se divorciar, passou dos 40 e não se cuidou em uma noite inesperada…

Tenho grandes amigas beirando os 35/40 que estão nessa enrascada de decidir se estão prontas para ter filhos. Mulheres incríveis que não estão embarcando no conto hollywoodiano de maternidade perfeita. Que sabem bem que ter filhos envolve muitos perrengues, desafios para o relacionamento e a carreira, medos e inseguranças e, sim, falta de liberdade. Eu admiro muito elas não embarcarem em uma responsabilidade tão grande de olhos vendados. E me identifico, inclusive agora, quando tenho lido tudo o que posso sobre desmame gentil para me preparar.

Mas me preparar para quando? Para quando eu estiver pronta, oras…


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