Lembra quando a gente falou sobre as etapas necessárias para engravidar? (Se não lembra, clique aqui) Então. As famosas trompas de falópio têm um papel importante nessas etapas, porque são elas que levam o folículo (que é a casinha do óvulo) dos ovários até o útero. É por isso que qualquer probleminha nelas pode ser prejudicial a quem deseja engravidar naturalmente.
Além da famosa “obstrução” das trompas de falópio, ou seja, quando elas ficam como uma torneirinha entupida, que não libera os óvulos, existe ainda uma série de problemas que pode atrapalhar sua gravidez. Um dos exames mais famosos – e temidos – para identificar problemas nas trompas é a histerossalpingografia. Explicando grosseiramente, mas de um modo simples de entender, esse exame “joga um líquido por dentro das trompas de falópio” e avalia se esse líquido passa corretamente pelas torneirinhas, no caso, as próprias trompas. Se ele não passar, é porque elas estão obstruídas. Nele, pode-se observar também uma alteração no relevo do interior da trompa ou um espessamento mucoso. Ainda existem os cílios, que se movimentam nas pontas para levar e trazer os óvulos para lá e para cá. E eles também podem apresentar problemas, o que atrapalharia uma possível gestação. Complexo, né?
Foi com o objetivo de entender isso melhor que a gente procurou o dr. André Vaz, ginecologista do Rio especializado nas trompas de falópio. Ele, inclusive, ficou conhecido porque desenvolveu uma técnica minimamente invasiva para desobstruir as trompas de quem já fez laqueadura.
O dr. André concedeu uma entrevista exclusiva ao Cadê Meu Neném? e a gente achou melhor dividir em duas partes* porque tem muita informação importante aqui:
Cadê Meu Neném?: Em uma mulher fértil, qual é o papel das trompas de falópio na fecundação?
André Vaz: As trompas são a “igreja”, onde o espermatozoide e o óvulo irão se casar. Elas têm a função de captar o óvulo no ovário. Na anatomia da trompa, existe a extremidade final chamada de ampola, pelo seu formato, que é maior que o resto da trompa. É bem aí que se dá a concepção. Na extremidade externa das ampolas, existem as fímbrias, que são como dedos que auxiliam a trompa a captar o óvulo no ovário no momento da ovulação.
CMN: Quais são as doenças mais comuns nas trompas de falópio que podem atrapalhar a fertilidade?
André: São as infecções. Desde a gonorreia até a tuberculose, além de processos inflamatórios, como a endometriose. E o pior é que nem todo mundo sabe que tem. Isso porque as clínicas de fertilização usam uma técnica de espermocultura dos anos 80, que não diagnostica os causadores mais comuns dessas infecções: os ureaplasmas e os mycoplasmas. Detalhe: desde 2006 a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o método por PCR para espermocultura, que é mais preciso.
CMN: Quais costumam ser os sintomas destas doenças?
André: Atualmente o que chama atenção são os casos assintomáticos em sua grande maioria (98%), causados por mycoplasmas e ureaplasmas. Ou seja, somente com a espermocultura correta, mesmo. No caso da endometriose, a cólica não é regra, mas está presente na maioria dos casos. De qualquer forma, é possível diagnosticar endometriose por métodos de evidência, com a ressonância magnética e a videolaparoscopia.
CMN: É possível reverter laqueadura das trompas?
André: Sim, desde que elas não tenham sido mutiladas, o que é muito comum nas pacientes atendidas por políticos em época de campanha política. Aliás, um crime de lesão corporal gravíssimo, segundo o código de processo penal.
CMN: O que é gravidez nas trompas? Por que ela acontece?
André: O interior da trompa é todo revestido por uma camada de cílios, que se movimentam harmoniosamente no sentido do útero, visando carregar o ovo até ele. Aquele ovo (que tem o nome de concepto), criado pela união do óvulo com o espermatozoide, se divide em duas, quatro, oito e 16 células. Isso ainda dentro da trompa. Depois, viram 32 células quando o ovo chega ao útero. Nesta multiplicação, o ovo vai crescendo. Se os cílios baterem muito devagar, o ovo vai ter 32 células ainda dentro da trompa, e ali ficará, formando uma gravidez tubária. Ao contrário, se o ritmo for muito acelerado, o ovo chegará cedo demais no útero, e com menos de 32 células o ovo não se fixa no útero, e acontece o aborto.
CMN: A mulher que teve uma gravidez tubariana pode ter uma gravidez normal na sequência?
André: Não é aconselhável que seja em sequência, sob a pena de se repetir o caso. Deve-se sempre afastar a causa infecciosa, tanto do aborto como da gravidez tubária. E aqui vale ressaltar, através da investigação no marido, ou seja, novamente a espermocultura por PCR.
CMN: É possível engravidar com apenas uma das trompas?
André: Sim, desde que a mesma esteja sadia.
O site do dr. André Vaz fica aqui, se você quiser saber mais.
*Fique ligada aqui no Cadê Meu Neném? porque a segunda parte da entrevista com o dr. André Vaz vai ao ar no dia 02 de agosto. Aliás, você já curtiu nossa página no Facebook? Clique aqui e curta para receber atualizações diárias!
**Foto: Flickr/Pockafwye
ANDRE VAZ 8 de agosto de 2017
Na verdade o site é o http://www.drandrevaz.com. Abraço, dr andre vaz