Querido diário,
hoje fui encontrar meu marido no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo, para uma exposição. Peguei um Uber e o motorista seguiu o Waze, aplicativo mais usado na cidade, eu arriscaria dizer. Só que já era de noite e o Waze, para escapar do trânsito, acabou nos levando para o meio da Cracolândia.
Fiquei com um pouco de medo, é claro, principalmente quando os moradores de rua fecharam a esquina, ali, de pé, fazendo uma fogueira para afastar o frio. Eu confesso que me senti alienada, pois nunca tinha visto tão de perto. Foi um choque muito grande ver aquelas pessoas reduzidas ao máximo da miséria e do desespero. Minha sensação nítida é de que só havia corpos, sem alma, ali.
E na sequência do breve medo de que eles atacassem o carro (sim, sou humana) veio um turbilhão de pensamentos à minha cabeça: e se meu filho vier dali? Será que eu vou saber conviver com isto? Será que ele terá sequelas físicas? Mentais? E emocionais? E se eu recusar “mãe usuária de craque” na ficha de adoção? Estarei tirando uma chance de uma criança de ter uma infância saudável e uma vida feliz? Sou uma bruxa por considerar esta possibilidade?
E o pior dos pensamentos: se eu não engravidei até agora é porque realmente não era para ser, pois estas mulheres que vivem uma vida tão sem perspectiva, saúde, alimento, abrigo, estabilidade emocional etc etc e mais uma leva de eteceteras engravidam não uma, mas segundo dados informais dos fóruns de família, diversas vezes.
Vai ver não era para ser mesmo. Está na hora de eu dar um passo adiante.
*Para ler a íntegra do Diário da Minha Não-Gravidez, clique aqui.
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