Eu já conhecia a loja da Flavia Aranha na Vila Madalena e gostava muito das roupas, supercasuais, com o maior jeito de confortáveis e fáceis de combinar. Mas confesso que sabia muito pouco da história da marca. Até que, durante a São Paulo Fashion Week do começo do ano, fui a uma palestra dela e fiquei encantada com a trajetória da estilista.
Ela contou que já trabalhava no mercado da moda, mas, em uma viagem à Ásia, viu as condições de trabalho das indústrias por lá e ficou chocada. “Não quis mais isso e provoquei uma ruptura. Queria transformar vidas com um fazer artesanal”, disse.
Então, em 2008 teve a ideia de criar uma marca que criasse e produzisse de uma maneira humanizada e artesanal. Levou um ano para colocar o projeto em prática e efetivamente lançar sua marca. E a pesquisa de Flavia Aranha foi intensa. Ela foi até a Índia e aprendeu sobre tingimento natural – o que não emprega tintas de produção industrial, mas plantas e frutas. “Eu me encantei. Aquilo ali é mais que uma produção de cores. É uma relação com a natureza, uma outra forma de interação entre as pessoas”, falou.
Essa viagem mudou sua vida. Flavia voltou ao Brasil e criou sua própria rede de fornecedores, uma das maiores queixas das pequenas marcas brasileiras. Afinal, nossa indústria têxtil convencional acaba tendo preços convidativos apenas para grandes grifes. “Hoje, me preocupo com toda a cadeia produtiva: de quem cultiva e colhe o algodão orgânico a quem fia, tinge o tecido, costura e, finalmente, ao consumidor. Me interessa saber como ele se relaciona com as nossas roupas”, explica.
A estilista disse ainda que percebe que hoje o consumidor está mais consciente e sabe que comprar é um ato político, então se interessa pela origem das suas roupas. Por isso, decidiu colocar nas etiquetas das roupas um Código QR, como esse aqui, ó:
Aí, basta você apontar o celular para ele e, com o aplicativo indicado na etiqueta, acessar um universo virtual. Nele, vídeos que mostram quem colheu o algodão que foi parar naquela peça, quem tingiu, quem costurou… em resumo, você passar a conhecer a história daquela roupa. A intenção de Flavia Aranha é humanizar a produção de moda e expandir o conhecimento dos seus clientes para que, no futuro, eles comecem a procurar – e até exigir – este tipo de informação em todas as marcas que consomem. “Não sinto que estou ajudando os artesãos, sinto que estou trabalhando junto. Está nas nossas mãos melhorar o mundo”, conclui. É ou não é incrível?
*Este post foi originalmente publicado no meu blog de moda no Yahoo, que ficava aqui.
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