“O reloginho biológico tocou meio tarde pra mim. Foi só depois do casamento. Quando eu estava com 34 anos, parei de tomar anticoncepcional. Após 6 meses, minha ginecologista pediu alguns exames básicos, que tiveram resultados normais.
Mas um ano se passou e fui buscar ajuda especializada. Afinal, logo completaria 35 anos e entraria no grupo de risco de dificuldade para engravidar. Fomos a um médico recomendado por amigos que realizaram tratamento com sucesso e ele nos solicitou exames específicos.
Todos os meus exames estavam perfeitos, mas minha reserva ovariana começava a atrapalhar, o que já era esperado pela minha idade. No exame do meu marido, deu uma baixa contagem de espermas tipo A, o que era possível corrigir com procedimentos médicos. Primeiro tentamos uma inseminação artificial, que não deu certo. Ele então nos recomendou a fertilização in vitro (FIV) e começamos nossa jornada.
No início, estava muito confiante. Não nos abalamos nem mesmo com o primeiro resultado negativo e já fomos para a segunda FIV. A partir da quarta tentativa, comecei a sentir alterações drásticas no meu organismo, como irritação, ganho de peso, depressão e mudanças no meu ciclo menstrual. Parecia que eu estava numa eterna TPM. Sem contar que parentes e amigos nem sempre sabem lidar com um casal infértil e alguns tentam ajudar com palpites e comentários que são até ofensivos ou vazios.
Mas não pensamos em desistir porque nunca nos disseram ‘suas chances são mínimas’. Acabávamos dando um tempo entre um tratamento e outro por questões financeiras, afinal o valor é alto… E praticamente estávamos trabalhando para custear isso.
Durante os procedimentos, eu sentia um monte de coisa. Ao mesmo tempo em que eu confiava que conseguiríamos, também me sentia inútil, tendo um corpo que não funcionava direito. Minha libido desmoronou, afinal eu não produzia o que tanto queríamos… me sentia desprezível. Mas continuamos.
Na sétima fertilização in vitro, engravidei e comemoramos muito. Mas no ultrassom não ouvimos o coração do bebê. O médico tentou amenizar a situação pedindo que tivéssemos calma, mas na oitava semana de gestação sofri o aborto natural.
Toda minha fragilidade veio à tona e precisei de ajuda psicológica para me recompor. Isso me ajudou a não desistir e a buscar outras opiniões. Paramos tudo por um ano, quando me dediquei a mim, cuidando do corpo, da mente e da vida.
Nesta época, tínhamos muito mais conhecimento do que é viver com a infertilidade e optamos por uma clínica, em que nosso novo médico era um dos proprietários. Já sentimos diferença no preenchimento dos questionários antes da consulta, pois havia questões sobre saúde dos nossos familiares e sobre hábitos de vida. Quando formos conversar com ele, levei um calhamaço de exames, todos os relatórios das FIVs anteriores e ele, juntamente com um urologista e outra geneticista, analisou o material.
Eles descobriram uma possível razão para não termos conseguido engravidar até então. Meu marido tomava um medicamento para calvície e o urologista se atentou a esse fato. Ele pediu um exame mais complexo denominado “desfragmentação do DNA do esperma”. Neste exame foi identificado que mesmo os espermas de qualidade A estavam com o DNA danificado, modificado geneticamente por um componente químico, provavelmente o princípio ativo deste medicamento. Meu marido parou de tomar por 6 meses e tomou um medicamento para regeneração celular. Repetiu o exame e a desfragmentação passou de 67% para apenas 12%. Fizemos o procedimento de FIV e engravidei.
Desta vez ouvimos o coração do bebê no primeiro ultrassom! Minha gravidez estava tranquila apesar da minha idade: já estava com 41 anos. Mas na 25ª semana eu tive um sangramento que me levou a uma internação hospitalar por bolsa rota. Isso significa que minha bolsa tinha um furo, por onde vazava líquido amniótico. Fiquei internada na semi-intensiva por 2 meses tentando adiar o parto. A Larissa nasceu de 32 semanas, de cesariana, pois havia risco de hemorragia e infecção. Eu estava debilitada pela internação e ela ficou na UTI neonatal por 26 dias, quando eu pude, finalmente, ser mãe.
Um ano depois, decidimos que ela teria um irmão. Partimos para uma nova FIV e… fomos surpreendidos com uma gestação de trigêmeos! Eu já estava com 42 anos e era uma gravidez de risco. Mesmo assim, foi tudo muito tranquilo e eles nasceram de 32 semanas. Após 29 dias de UTI neonatal pudemos levá-los pra casa! Hoje, tenho a Larissa, com 4 anos, e os trigêmeos Anna, Alexandre e Filipe, com 2 anos e meio”.
Andréa Jacoto, 45 anos, é autora do livro e do blog “Mãe de Proveta”, lançado em agosto de 2016 pela Editora Biografia, onde relata sua experiência
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